2006-08-08

Futurologia

Em tempos fizémos do futuro uma quase promessa solene, um voto silencioso de que continuaríamos, em conjunto, mão na mão, pela estrada do nosso destino. Imaginei-nos já com as caras sulcadas pelo tempo, os cabelos mais brancos e os sentidos mais apurados numa simbiose perfeita: tu, eu, uma varanda com vista sobre um verde imenso , beijado pelo azul marinho, o silêncio, os cães, o comungar das paixões e dos prazeres das nossas vidas, contigo a pintar, comigo a escrever. Metades. Complementos de sentires, saboreares, filtrares que a vida nos fora ensinando. Imagino-nos sempre nesse futuro tranquilo e encantado, não tenho imagem que mais me aqueça a alma do que essa, porque é uma sensação quente e doce que me percorre quando fecho os olhos para sonhar com o nosso futuro.

Não imaginas o quanto quero viver esse sonho, o quanto tu és um sonho para mim... talvez tenha medo de, simplesmente, um dia acordar e ver que este sonho não era realidade. Tenho vislumbres desse dia, da manhã tenebrosa em que não te vou sentir enroscada em mim, e são tristes essas horas, esses dias em que não te sinto, em que nenhum gesto teu se funde com o meu, em que páras de pintar e eu páro de escrever e somos criaturas medonhamente reais, embrutecidas e carcomidas pela vida. Detesto esses momentos, a ti parece não te custar... aí chegam as diferenças, as experiências diferentes. Mas isso é o que pretendo que sejamos: diferentes. Amantes e cúmplices, felizes e sorridentes. Onde reside a dificuldade? Na essência? Na vivência? Na incapacidade?

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